O SEMEADOR DE ESTRELAS
ao pontilhar prateado das estrelas.
E sentiu um suave perfume que se espalhava
pelo ondular das serenas brisas.
E o olhar se concentrou e percebeu não ser
uma única flor, mas de fato muitas.
De modo que aquela era apenas
a primeira a ser vista de um imenso jardim.
Um imenso canteiro cultivado
por dedicado jardineiro, um quadro de pura beleza.
Uma agradável visão que trazia uma felicidade
tão intensa, quanto desconhecida.
Felicidade cheia de leveza,
sentimento divino a flutuar
como pluma dentro do coração.
Brando sentir. Na sua sutileza,
toda sua raridade. No seu amor,
toda sua nobreza. Cantiga de ninar,
acalanto materno que embala nos braços
a tenra e bela criança. Encontrando ali
outras tantas crianças, reunidas em um canto
de harmonia celestial. Movimentando-se lépidas,
como que a correr atrás dos seus sorrisos,
felizes e em paz. Misturando-se com as flores,
intensificando a beleza e a vida
com cores especiais. E olhar que a tudo via
enfeitiçou-se com tamanho encanto,
e foi visitado por lágrimas. Água pura que brotou
da nascente do coração sensibilizado
por seu sentir ingênuo.
Não eram as impulsivas emoções,
mas os maduros sentimentos
que vivem na alma. E foi a alma que desperta
de seu falso sono que trilhou, tranquila,
por aquele caminho. Uma velha alma
que se unia às crianças e às flores,
unindo senilidade com infância.
Inoculando em sua velha energia
o fluído das energias nascentes,
fazendo-se criança.
Encontrando neste rejuvenescer
a realização da maturidade liberta
dos velhos pecados. Descobrindo a lição de que
ante o Criador será sempre
uma tenra e bela criança.
Permitindo que, mesmo em seus longos anos,
mantenha viva no peito a eterna infância.
Restaurando a meninice que desperta os ideais
no coração dos homens maduros.
Surpreendendo-se com a imensa força
produzida a partir da verdadeira afeição.
Delicado carinho que cobre as antigas feridas.
Alimento santo, lume que produz luz.
E a paz se fez e ficou cheio de harmonioso silêncio.
E nele havia tanto e muito dizia.
E não tendo asas, viu que se erguia
com os pés do chão, flutuava em meio à criação.
Estava entre as sonhadas estrelas,
não mais lhe visitava a melancólica saudade.
Anjo caído ou anjo enviado?
Entre as flores do infinito isso importava muito pouco.
Embriagado pelo êxtase do espírito,
não sabia se antes chorava ou sorria de felicidade.
E não sabendo exatamente,
despojou-se da razão, fazendo-se totalmente livre.
Deixou-se levar para comungar
com o que simplesmente sabia
tocar-lhe o coração. E não sabendo o que fazer,
percebeu lhe invadir uma desconhecida
e profunda gratidão. E não sabendo do porquê,
apenas agradeceu e, entre incrédulo e recompensado,
vislumbrou um doce olhar e seu sorriso,
que lhe dizia: "não por isto”.
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