VERSOS DE SOL E LUA



Qual o mistério discreto
dos versos poéticos,
que podem ser flamejantes
como os versos das paixões,
ou suaves como a brisa,
assim como são
os versos de amor?
Difícil entender, sabe-se
que querem dizer algo.
Que pode ser um 'não dito',
pois às vezes não são transparentes,
mas silêncio incutido.
E por isso se fazem secretos,
se envolvem em segredos
que nunca existiram
para aqueles que leem
com os olhos do coração.
Nascem com a manhã,
ao nascer do sol,
onde tudo é claro.
São templo de luz bordada
no horizonte,
a bailar como só as fadas
conseguem fazer.
Nascem com a noite,
encantados
pelo passeio da lua,
e então simplesmente flutuam.
Julgam-se com asas,
confundem-se,
e já não são mais fadas,
mas anjos noturnos.
E têm o dom de entender a lua,
descobrindo a alma
de paz guardada na noite,
pois que ante o prateado lunar,
as palavras são confissões,
e já não são ditas, mas cantadas,
ganham musicalidade
que se transforma
em cantiga de ninar,
que acaba por acalentar
os corações atentos,
pois que estes
são como as crianças e os velhos,
estão mais próximos da eternidade
por estarem vindo ou indo.
Mas ao poema isto não importa,
vale sim o fugaz momento,
o minúsculo instante
de efemeridade
a brincar com a eternidade,
onde a tenaz fragilidade
se alvoroça em força,
criando o encanto da satisfação,
dos versos tingidos de afeto
que vagam, vadios,
em torno dos que têm
coração de poeta.

Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Reservados




ASAS DA ESPERANÇA





Avance, decidida ave
da boa vontade,
carregue consigo
a força perseverante
da grande busca.
Vença o oceano,
vença o horizonte.
Partindo para o seu voo sideral,
vá em busca das sementes.
Vá à procura
das essências puras
que não foram pervertidas,
busque-as em lugar saudável,
local onde os pacíficos
podem existir em plenitude,
onde a paz não leva
à vulnerabilidade.
Onde retidão e sinceridade
suplantam a hipocrisia,
tornando-a ridícula
e ultrapassada.
Onde o lutador
venceu a força bruta
com a sabedoria,
onde as grandes verdades
não estão ocultas.
Vá, mergulhe com seu corpo
de leves plumas
nesse oceano de eternidade.
Traga sob a forma
de sementes as revelações
das grandes almas,
o espírito das letras.
Então, cheia
dessa luz tão pura,
retorne, volte para nosso
pobre planeta.
Busque terra fértil,
deixe-as cair ao solo
e mais uma vez voe ao alto,
clame às nuvens pelas chuvas.
E no cair da água celeste
o espírito do céu há
de fecundar o solo da terra.
Para que um dia
o sonho do presente
brote como fruta tenra
na lavoura das almas do futuro.


Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Reservados


POETA, NÁUFRAGO DE ALMA



Ainda que náufrago,
Jogaria garrafas com mensagens ao oceano.
Ainda que sem garrafas e sem papel,
Haveria de imaginar que existissem,
Pois que entre o delírio e a realidade que matam,
Viveria a ilusão da esperança que acalenta.
Sentiria o consolo do afeto que anseio estar perdido,
Pois que não o conquistei,
Nem meu coração foi por ele conquistado,
Antes, vive o abandono; não dos outros,
Mas de mim mesmo, pois que é enfadonho ser,
Pois que é triste existir, e ainda assim, existo.
Pensando haver passividade
Quando tudo em mim é profunda rebelião.
Não amaria com distância, pois só sei amar com paixão.
E tendo paixão, teria vergonha de mim.
Sentir-me-ia fraco ante a minha humanidade,
pois que ainda que inexistente, minha alma é orgulhosa,
irritantemente orgulhosa.
E isso não me traz proveito algum,
apenas a força que o tempo há sempre de subjugar.
Nisto havendo um saber da natureza,
pois que para o bem coletivo,
todo ego tem que ter limite,
ou a paz seria impossível.
E o caos nasceria da constância dos confrontos.
Não sei por que insisto.
Talvez haja a sombra de um náufrago,
Um fantasma insepulto que insiste em existir.
Que não vai embora, mas não deseja ficar,
que almeja pouco, e isto há de ser tanto...
Pois perdido em idéias, enganado em emoções,
haverá um dia de encontrar um olhar,
que quem sabe já habite minha vida,
mas que, inquieto, não desvenda o silêncio.
E o silêncio diz tanto...
E minha surdez não o escuta.

Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Reservados

JARDINS DO CORAÇÃO

Jardins do Coração


Flor única que nasceu em meio
a tantas outras, numa florada primaveril.
Delicado botão
que trouxe a promessa
de ser tenro fruto,
mas alguns espinhos também.
Talvez sejam estes acúleos
que machucam o convulsivo coração,
criando taquicardias,
despertando a inquietação
das emoções que desafiam
a pacífica lógica da razão.
Antepondo a realidade
dos sentimentos às idealizações
dos paraísos do mundo mental.
São etéreas nuvens que circundam
o cume, contrapondo-se
à densa neblina do fundo abismo.
Toda a imensidão do horizonte
e o lugar comum onde
fronteiras encontram-se em disputa.
Toda a distância existente no universo
e a opressão dos instintos
que acumulam para o ego.
Muito será o tempo necessário
para adquirir-se a sensatez do outono,
a maturidade feliz.
Dias vêm, dias vão
e os calendários vão ficando inúteis,
legados ao passado da história.
Um minúsculo instante
e tudo que se julgava efetivado
pode ser transformado, pode mudar.
É como se quem visse a bela lua
passasse a questionar-se
quanto ao números de luas do universo,
e num encontro ocasional unissem-se
a poesia e a filosofia,
lapidando com beleza o pensamento.
De onde ? Para onde?
Tempo, tempo...tempo.
De quanta angústia pode
se fingir a escassa euforia..

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O CAMINHO DAS ESTRELAS




Quem somos nós?
Seríamos força ou fragilidade?
Sei que somos individualidade,
sei que vivemos solidão,
mas não desejamos solidão.
Pelo bem ou pelo mal,
vivemos uns pelos outros.
Assim, seja o que formos,
cada um de nós haverá
de ser parte integrante de um todo.
Na harmonização
das relações individuais,
nesta coletividade está o desafio.
Na utópica promessa
ou realidade futura,
ou mera esperança
da congregação
e manter a individualidade.
E todos serão um,
mas cada um haverá de ser um.
Talvez exista luz oculta,
pois que ainda
somos cegos aos seus raios.
Talvez este lume esteja
mais próximo que imaginamos.
Talvez na trilha do coração.
E o coração está no corpo,
mas vive pela alma,
por isto vê por percepções.
Nas descobertas da mente
e esta sorri por realizar
o que antes apenas imaginava.
E nesse gozo do espírito,
aquele que um dia quis
apenas ser águia
fica feliz em ser parte pomba também,
pois reúne força e mansidão.
E esta parte pomba se diverte
por ver-se a voar como
a parte que é águia.
Nestes símbolos vê a águia
como o arrojo dos pensamentos,
a pomba com a suavidade
dos sentimentos.
E neste instante,
a ilusão invade a realidade
e nem águia, nem pomba,
um homem que ganha asas,
que muta-se em anjo de luz
a caminho das estrelas.

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RAIOS DE LUAR




Lua, luar de prata a inundar o céu.
Lume celestial, bola celeste.
Satélite terrestre. Capitã dos mares,
proprietária das regras feminis.
Vaga em sua falsa solidão,
pois que comunga com as estrelas.
Prata a ver o azul da bola terrestre,
dona do horizonte noturno.
Enfeita como jóia rara as cordilheiras,
brinca de intimidade quando se faz perto.
Finge-se de saudade quando vai ao longe,
mas é sempre presente, mesmo quando oculta.
Toma de empréstimo a luz solar
e brilha diferente, no seu tom.
Dona da noite, posseira dos corações,
deusa e musa das poesias.
Sua beleza tem perfil das fêmeas da terra.
É brilho atraente como os olhos da musa.
É dama que gosta da noite, e só espia o dia.
Convida o despertar dos perfumes nos jardins.
É madura, com o saber das mulheres sábias.
É menina que desperta a paixão nos meninos.
Lua do dragão, do Santo Guerreiro,
dos príncipes encantados das apaixonadas.
É dona das lendas, é nórdica e africana.
São suas filhas, as fadas e ninfas.
São suas meninas, Iansã e Iemanjá.
Pactua com todas as fêmeas da Terra.
Deusa de luz curativa, mãos de luzes.
Guardiã do portal do céu.
Medianeira da Terra e do Universo,
mãe e filha do Planeta das Águas.
Pequena jóia, mas de raro poder,
comunga com a fertilidade,
avisa a primavera, nutre todas as estações.
Flor do céu, convite ao questionamento.
Dona dos risos e dos choros,
pois que abençoa e ilumina as lágrimas,
transforma-as em gotas de cristais,
posseira dos sentimentos e emoções.
Por hoje, por ontem, pelo amanhã,
Nova, Crescente, Cheia e Minguante.
Para todo o sempre
a iluminar as efêmeras flores.


Gilberto Brandão Marcon
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