CONSOLAÇÃO



Pai, Senhor do Infinito,
aconchega-me em Teu colo santo,
para que minhas angústias
não me tornem amargo.
Ceda-me uma réstia de Teu olhar
de eterna esperança,
substituindo, assim ,
as lágrimas de desespero,
pela pacífica humildade
que nos traz a sabedoria.
Permita-me apreender
a conversão do ódio em amor.
E assim ser semente
que faz brotar vida em meio à aridez.
Ajuda-me a amadurecer
os meus sentimentos,
permitindo que minhas mágoas
sejam convertidas em adubo fértil
para a semente do bem.
Pai, ensina-me um pouco
da Tua paciência bendita.
Acompanha-me neste meu engatinhar
para o Teu caminho.
Com Tua força suave
afasta de mim o fantasma do medo,
permitindo brotar em minha memória
as lições da eternidade,
fazendo que o meu casulo corporal
seja apenas ninho e morada
de uma ave chamada liberdade.
Seja ela alma etérea a habitar
o nervo ótico de meus limitados olhos,
dando-me olhos de ver,
tendo visão para desvendar
o quão profundo é o universo.
E que a imagem deste infinito oceano
de astros celestes
tenha o dom do consolo,
realizando o milagre de resgatar
a paz perdida, inundando de serenidade
a brutalidade competitiva do cotidiano.
E que neste pacificar-se
eu encontre a dádiva da prece.
Que a prece transforme-se
em oração que fala aos Teus ouvidos.
Que Teu socorro seja barreira eficaz
contra a clava e a espada.
Que mesmo sozinho, eu esteja Contigo.
Que mesmo longe de tudo,
ainda esteja perto de Ti.
Traz-me o afeto do congregar
das presenças fraternas.
Tuas luzes, lumes sagrados
a iluminar o escuro das trevas.
Trevas dos cérebros e corações rebeldes
à Tua Lei e ao Teu Amor.
Pai, ensina-me a transformar
minha obstinação em perseverança
na tua busca.
Que as energias vitais
do Afeto Divino venham me nutrir,
por entre sorrisos e lágrimas,
vitórias e derrotas,
criando em mim serena e enérgica vontade,
direcionando o meu livre arbítrio
para congregar-me em Tua obra.

Gilberto Brandão Marcon - Todos os Direitos Reservados

Audio:

http://recantodasletras.uol.com.br/oracoes/1546974



Eterna Busca



Eternos contrastes, luz e trevas,
Supernovas e anãs, universo,
No fio de fina lâmina, razão e fé.


Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Reservados

POR UM INSTANTE



Céu noturno e as iluminadas sombras estrelares,

Energias cósmicas a banhar os viventes.

Infinitos seres em meio

às inúmeras constelações.

Nave errante a vagar pelas trilhas do tempo.

Pulsa um coração, sangue morno

banha os litorais do corpo.

São células a se misturar

com prismáticas emoções.

Pensamentos difusos

a se fingirem de poeira cósmica,

De modo que dúvidas

harmonizam-se com conclusões.

Insana é a tentativa de racionalizar o impalpável,

Mas o impulso de buscar uma explicação é vivo.

Muitos são os iludidos da matemática,

outros da lógica,

Mas qual verdade

não haverá de ser relativa?

E então retomar o olhar vadio,

Deixar os porquês abandonados,

Elevar-se no prazer de estar vivo,

Iludindo-se com asas de viajante cigano.

E então as galáxias estarão mais próximas,

O céu estará menos distante dos olhos,

E com o coração leve, o cérebro vazio,

Um sorriso brotará em sinal de felicidade

Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Reservados
RODA DA FORTUNA



Pó do tempo, ampulhetas vivas,

Glórias e galardões passageiros.

Ilusões, imutáveis mudanças.


Gilberto Brandão Marcon

Todos os Direitos Reservados



O IMPÉRIO DAS HORAS





Marcha! Um, dois...um dois...
Pés pisoteando com fúria o chão do caminho.
Olha o tempo! ... Olha o tempo!
Acelerado! Acelerado! Marche!
Corre! Corra! Corram!
Os corações parecem dobrarem-se em caimbras,
Os músculos descoordenam-se em movimentos epilépticos,
A suprema obrigação. A ordem a ser cumprida.
Não pense. Não se questione.
Respostas e verdades podem ser heresias.
Tome cuidado com as palavras ditas,
Podem ser a sua confissão de culpa.
Mãos de aço podem adornar-lhe a garganta.
Vamos! Andem! Vamos, molengas!
Estão todos atrasados. São todos uns perdedores.
Temos que vencer, mas estamos atrasados.
Temos que chegar no horário, mas somos perdedores.
Aqueçam os músculos, esfriem a alma.
Sonhos são inúteis, sejam práticos,
Sejam heroicamente tolos,
Finjam-se de ingênuos como estratégia de esperteza.
Transformem em dinheiro a sua criatividade.
Enredem-se no novelo de comprar e vender.
Todo o saber por uns míseros trocados.
Entretanto, por um instante, parem!
Segurem estes malditos segundos.
Esmurrem essa boca que não para de emitir ordens.
Depois, caia de joelhos e peça clemência.
Com lágrimas nos olhos, engula alimentos e líquidos.
Fique muito feliz por tê-los, pois a miséria é terrível.
Teme a falta de recursos, não reclame do desprezo,
Agradeça a tudo, agradeça a todos.
Se não quiser agradecer, ao menos finja.
Premie com sua hipocrisia o orgulho alheio,
Para depois receber em troca toda merecida indiferença.
Não se esqueça de bater continência às estátuas das praças.
Plante um sorriso imbecil na sua face, seja aceitável.
Seja tolerável, tente agradar, não julgue a nada.
Esqueça as suas inquietantes dúvidas
E por fim, nada de lágrimas,
Escancare os dentes e sorria.

Gilberto Brandão Marcon
Todos os Direitos Reservados


MOINHOS DE VENTOS





Uma folha em branco,
desnuda de qualquer sinal gráfico.
Várias folhas virgens
e o vento do tempo a atiçar as fraternas folhas.
Acusando a sua existência
um velho moinho com cara de helicóptero.
As páginas dos dias da existência
escrevendo diariamente a história de cada um.
E deixando o pensamento criar asas,
vendo os dias correndo à mercê dos ventos.
Esperança de liberdade para os que entendem o tempo,
desespero aos que não o compreendem.
Trazendo-lhes o terror
da chegada das primeiras rugas do corpo
que há de cair ante a velhice.
Fazendo-os ver o destino como um terrível carrasco
com o seu poderoso chicote inevitável.
Descobrindo com amargura o quão efêmero
é o suposto controle que exercem sobre a vida.
Pondo à prova a própria arrogância,
tão ínfima ante a força da morte.
Tudo dizimado a nada.
Então ironia, um certo riso piedoso,
para depois render-se
à toda acidez do sarcasmo.
E então rir penalizado de si,
rir-se vingativamente dos outros,
para depois chorar copiosamente.
Vendo pelas frestas do pensamento
sermos vítimas e algozes fraternais uns dos outros.
Meros viajantes, intempestivos aventureiros
a vagar pelas trilhas desenhadas pelo destino.
Cheios de orgulho e vaidade,
enceguecidos pela auto-estima superlativa;
crianças travessas.
Grandes em curiosidade,
perdidos por entre as imensas
dúvidas pelas páginas ainda vazias.
Propensos ao comodismo das verdades impostas,
fugitivos das dores, amantes dos prazeres.
No ponto limite entre a razão e a ignorância,
na fronteira entre a civilização e a brutalidade.
E o vento acusando a sua chegada,
o movimento assustador
daquele maldito moinho do tempo
com suas engrenagens girando sem piedade,
seguindo a mecanicidade da lei estabelecida.
Sendo assim tão implacável
como condicionado aos ventos,
e talvez nisto tendo algo de bendito.
Um porto seguro em meio à grande tempestade.
Um ponto de referência em meio ao caos.
Uma inflexível imagem que não se sabe bem
se é uma promessa de dádiva ou sentença
mas, ainda assim, sendo algo constante
em meio ao confronto de muitas forças desordenadas.
Uma sutil fonte de água pura
em meio à intensa aridez de um imenso deserto

Gilberto Brandão Marcon
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DISTANTE DE TUDO





Meios momentos, fragmentos de palavras.
Fluem na alma tempos passados, já distantes,
para logo se saber a presença do agora.
E o presente ocupa o lugar das lembranças.
O coração perde peso, o cérebro fica vazio
e nisto parece haver uma intensa liberdade.
Em meio às sensações, a pureza ingênua.
O prazer não tem tempo para se fazer culpa.
Vive-se um momento que comunga consigo.
Vive para si, para todos e por ninguém,
e isso cria um estado de plena leveza.
Não voa, não tem asas, mas levita, distante.
A força parece ter encontrado a beleza.
E a beleza já existe na pacificada força.
E pouco importa se é sonho ou utopia,
vale mais o silêncio, melhor é o sorriso.
Não se fazem mais necessárias as reflexões,
a consciência liberta apenas vive.
E existir se encontra com o prazer da virtude.
E a dualidade originária se congrega em um.
E numa paz que desconheço, mas visita-me,
já não sei se sinto-me feliz ou triste,
pois isto parece pequeno demais neste momento.
E a maior das posses parece ser a renúncia.
E ainda sei que sou, mas renuncio a mim.
A luta venceu a batalha e a luta foi vencida pela paz.
E já não é mais a vontade que conduz,
mas o coração que verte-se em suaves emoções.
É o cérebro que brinca em das formas líricas,
e as letras da verdade não querem convencer,
apenas convidam, seduzem.
Por não serem sedutoras, prometem sem juras,
vestem-se de irresistível encanto
no amor que nasceu semente,
que brotou em grandes carvalhos de vento
que produziram doces frutos de luz.

Gilberto Brandão Marcon
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